PARANÓIA
Numa das minhas viagens ao
complexo de alumínio, em Barcarena, Pará, fiquei hospedado no hotel Sumaúma, na
Praia do Caripy. O hotel tem uma unidade
de apartamentos construído no topo de uma sumaúma, maior árvore da Amazônia. Essa
construção é toda em madeira, um belo projeto arquitetônico integrado ao meio
ambiente. Ficaria lá hospedado por trinta
dias, substituindo um colega que entrara de férias. Em frente ao hotel, estende-se a bela praia do
Caripy, no rio Pará, de onde se divisa a ilha de Marajó quilômetros a perder de
vista. O rio Pará, um afluente do rio Amazonas, chega à foz pelo lado direito
da ilha de Marajó enquanto o rio Amazonas abraça a ilha pela esquerda. Uma vez alojado, fiquei sabendo que houve um
roubo de cabos telefônicos, deixando o hotel isolado do resto do mundo. Ficamos
incomunicáveis por dois dias. Na recepção me informaram que era comum esse tipo
de roubo e pediam que quem visse alguém subindo nos postes entrasse em contato
com o hotel ou com a concessionária.
Fazia eu minha caminhada de exercício
diário quando me deparei com um ladrão em ação no topo da escada com um alicate
tentando cortar os fios de um poste. Não havia mais ninguém na estrada a quem
pudesse pedir ajuda.
Resolvi agir sozinho e falei
para o fulano:
— Desce daí!
Ele olhou para baixo e fez que
não era com ele. Insisti, agora berrando:
— DESÇA DAÍ!
— Não enche o saco, respondeu
com rispidez.
Comecei a me irritar e me
lembrei de um conselho que meu avô me dera quando ainda criança:
“Nunca saque o revólver se você
não tiver certeza de que terá coragem de atirar.”
Não estranhem essa máxima do
meu avô, mas ele era do tempo em que se andava armado, resquícios de suas peripécias pelos sertões mineiros.
Estava eu diante de uma
situação real e o conselho do meu avô a martelar-me o cérebro. Eu já tinha
sacado a arma (Desça daí). Agora era acovardar-me ou ir em frente. Não pensei duas vezes.
— Desça daí, senão jogo você e
a escada no chão — bradei.
— Vá se f.... — respondeu-me
também enfezado.
Meu sangue ferveu e atraquei-me
com a escada, comecei a sacudi-la, até que ele caiu lá de cima como um coco
maduro. Só tive o tempo de recolher o pé antes que ele se esborrachasse no
chão. Ele levantou-se rápido e me acusou:
— Você é louco, olha o que você
fez, olha o que você fez...
— E o que foi que eu fiz? Hein,
o que foi que eu fiz?
Só então notei o carro da
concessionária na curva da estrada.
—Desce daí senão vou jogar você e escada no chão!
Ficou me olhando fixo sem
acreditar no que estava acontecendo, deve ter concluído que eu era um doido
varrido.
Achei melhor retornar à minha
caminhada. Quando peguei a chave do apartamento ainda cantei de galo para a
recepcionista:
— Acabei de evitar um roubo de
fio de telefone.
Ela ficou me olhando encantada
e para evitar emoções mais fortes retirei-me para meus aposentos. (março/2004)